Correio do Minho

Braga, quinta-feira

- +
Vassalo Abreu: 'Câmaras querem gerir parque Nacional da Peneda-Gerês'
Procissão da Burrinha cancelada

Vassalo Abreu: 'Câmaras querem gerir parque Nacional da Peneda-Gerês'

Montalegre-Limianos em risco devido à neve

Vassalo Abreu: 'Câmaras querem gerir parque Nacional da Peneda-Gerês'

Entrevistas

2014-04-05 às 06h00

José Paulo Silva José Paulo Silva

Vassalo Abreu, presidente da Câmara Municipal da Ponte da Barca, continua a reivindicar para o concelho a sede do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Em entrevista ao Correio do Minho/Rádio Antena Minho, o edil critica a falta de investimento estatal na principal área protegida portuguesa.

Citação

Vassalo Abreu, presidente da Câmara Municipal da Ponte da Barca, continua a reivindicar para o concelho a sede do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Em entrevista ao Correio do Minho/Rádio Antena Minho, o edil critica a falta de investimento estatal na principal área protegida portuguesa.

P - Entra neste seu terceiro mandato autárquico com que espírito?
R - Com o espírito de sempre, o de serviço público. Eu gosto muito da política. Comecei a andar na política em 1969.

P - Quando foi eleito pela primeira vez presidente de câmara, a sensação não era diferente?
R - Era a primeira vez, ia tomar conta de de uma autarquia cuja situação não era muito boa. A câmara tinha sido gerido praticamente sempre pelo PSD, eu chegava com uma equipa nova, mas o entusiasmo era o mesmo que eu ponho todos os dias no exercício das minhas funções.

P - Encontrou, em 2005, o concelho da Ponte da Barca muito diferente do que é agora?
R - Sem falta de modéstia, nós demos uma volta ao concelho da Ponte da Barca. Definimos como prioridades a acção social e a educação. Apesar de estar a 40 quilómetros do mar, Ponte da Barca é um concelho com todas as características do interior. Nós estávamos em último lugar no que concerne aos apoios sociais, neste momento estamos na linha da frente. Fechámos escolas primárias e construímos novos centros escolares, ao nível das acessibilidades, do abastecimento de água e das infra-estruturas, cumprimos os nossos objectivos. Passados estes anos, Ponte da Barca é o único concelho de Viana do Castelo que tem uma loja do cidadão.

P - Ponte da Barca ainda não aparece bem posicionada nos rankings de desenvolvimento.
R - Lembro-me de um estudo da Universidade da Beira Interior que era um perfeito absurdo. Quando as caixas multibanco é que contam, há qualquer coisa que não está bem. Ponte da Barca tem muito pouca indústria, mas ao lado, nos Arcos de Valdevez, há muita indústria que emprega pessoas da Ponte da Barca. Isso reflecte-se nas estatísticas. Ponte da Barca precisa de ir muito mais além. A aposta que estamos a fazer já devia ter sido feita há mais tempo. Cheguei à câmara praticamente em 2006, a crise chegou em 2008. A nossa grande aposta está a ser o turismo e o aproveitamento dos produtos endógenos. Está a haver uma aposta no vinho e na castanha.

P- Não é prioridade para a Ponte da Barca investir na indústria?
R - Nós temos um parque industrial junto à vila com todas as facilidades para quem quiser lá instalar-se, temos o parque industrial de S. João, estivemos na ‘short list’ para a vinda da IKEA, ao lado de Estarreja e Paços de Ferreira. Quando cheguei à câmara, encomendei um plano estratégico para 2005-2020 e estou a tentar cumpri-lo escrupulosamente. No âmbito da Comunidade Intermunicipal Minho-Lima, temos um plano estratégico até 2020. No que diz respeito a Ponte da Barca, os dois planos estão inteiramente de acordo: a prioridade é o turismo. O Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) é, neste momento, o nosso mercado. Cinquenta e dois por cento do território da Ponte da Barca é área do PNPG.

P - Estão a tirar rendimento disso?
R - Temos de o tirar. O PNPG quase não tem direcção e temos de ser nós, os autarcas, a fazer a defesa intransigente daquela riqueza. Ninguém mais do que nós está interessado em que a Mata do Cabril se preserve. As autarquias gastam muito dinheiro para preservar o PNPG. Só na área do PNPG no concelho da Ponte da Barca já há dezenas de casas de turismo rural que estão quase sempre cheias, vai ser inaugurado um hotel de quatro estrelas com SPA, há um empresário interessado em adaptar uma residencial para acolhimento de turistas seniores do norte da Europa, o parque de campismo de Entre-os-Rio está a ser recuperado, temos todas as condições para ter a melhor pista de canoagem na barragem de Touvedo. A nossa grande aposta é o turismo natureza. Há três anos, assinei um protocolo com a EDP para visitas ao fundo da barragem da Alto Lindoso. Temos uma das portas do PNPG.

P - Tem funcionado bem?
R - Nos últimos dois anos a porta teve cerca de 50 mil visitantes, não contando com os alunos das escolas. Ao fundo da barragem do Alto Lindoso já foram 16 mil pessoas.
P - Estes espelhos de água estão bem aproveitados em termos turísticos e desportivos?
R - Temos projectos para pistas de pesca e canoagem em Touvedo.

P - O turismo natureza está a ser bem promovido pela Entidade Regional de Turismo Porto e Norte de Portugal?
R - Os cinco presidentes das câmaras do PNPG e o presidente da Entidade Regional, Melchior Moreira, pediram ao uma audiência ao ministro do Ambiente para delinear as perspectivas de um bom aproveitamento do PNPG.

P -Ainda não perdeu a esperança de levar a sede do PNPG para Ponte da Barca?
R - É lá que devia estar. É uma questão de racionalidade. Queremos um director do PNPG. Este Governo fez uma asneira de todo o tamanho: há um director que está em Vila Real e que superintende todas as áreas protegidas da região norte. O PNPG é demasiado importante para estar ao abandono.

P - É a constatação que faz?
R - É o único parque nacional tranfronteiriço. As matas do Cabril e da Albergaria têm espécies únicas no mundo.

P - São as câmaras que estão a zelar pelo PNPG?
R - Somos nós os únicos a fazer algum trabalho de manutenção. Se não fossem as câmaras, o PNPG estaria completamente ao abandono. Não tenham a menor dúvida.

P - Todos os anos há incêndios no PNPG. Este ano vai ser diferente?
R - No que concerne ao concelho da Ponte da Barca, há brigadas de sapadores florestais em Entre-os-Rios, Lindoso e na vila, para além dos bombeiros voluntários que são imprescindíveis. Todos aprendemos que a pastorícia é um meio de prevenção de incêndios e proibiram as cabras nos montes. Antigamente, o PNPG tinha funcionários que procediam à limpeza. Hoje, se não formos nós a fazer a limpeza possível...Se metade do que se gasta no combate fosse gasto na prevenção resolvia-se o problema.

P - Antevê uma participação das câmaras na gestão do PNPG?
R -É isso que nós queremos. Todas as câmaras estão apetrechadas com técnicos. Passem-nos as competências e as verbas!

P - Seria uma gestão partilhada do PNPG?
R - A associação Adere Peneda-Gerês já funciona há muitos anos. A gestão podia passar por aí. É uma questão de decisão política.

P - Foi recentemente eleito da secção de municípios com barragens da Associação Nacional de Municípios Portugueses. Qual é a importâncias das barragens para o concelho da Ponte da Barca?
R - No concelho é produzida 6,5 % da energia hídrica do país. Neste momento, a barragem do Alto Lindoso dá um prejuízo na ordem de 1,5 milhões de euros por ano a Ponte da Barca. Em 1994, houve uma alteração à lei das finanças locais e éramos o 13.º município do país no contributo para o PIB! Porquê? Por força da riqueza gerada no Alto Lindoso. Só que lá não fica nada. Hoje recebemos menos 1,5 milhões de euros do Estado em relação ao que tínhamos direito na aplicação correcta da lei das finanças locais. As barragens não dão lucro nenhum ao município, pelo contrário, dão prejuízo porque ocuparam terras que pagavam IMI.

P - O seu município não recebe rendas?
R - Uma lei de 1983 fixa as rendas que as empresas de electricidade têm de pagar aos municípios. Este ano, recebi 50 e poucos mil euros. Uma das primeiras coisas que fiz quando cheguei à câmara da Ponte da Barca foi tentar que a derrama municipal fosse paga não em função do número de trabalhadores, mas também em função da riqueza produzida localmente. Continuamos na tentativa de que haja um Governo com coragem de dizer que é assim. Na questão das rendas, fizemos um acordo com a EDP que dá cinco milhões de euros aos municípios com barragens a título de mecenato. Para além da renda, a EDP deu ao município da Ponte da Barca mais 242 mil euros. Estamos a negociar a alteração da lei de 1983. Para isso é preciso vontade política do Governo e vontade da ERSE - Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos.

P - Como está o processo da Pousada do Lindoso?
R - Vou reunir com um potencial investidor. As ruínas da Pousada da EDP são da câmara municipal. Foi um crime ter deixado degradar aquilo daquela forma. Vamos tentar reactivar a pousada.

P - Depois das últimas eleições autárquicas, como entende o papel da Comunidade Intermunicipal do Minho-Lima? Dá a ideia que ganhou mais dinamismo com novos autarcas.
R - Não. Como sabem, a CIM Minho-Lima estava na linha da frente, fomos os primeiros a definir o plano estratégico para o quadro comunitário que aí vem. Tinha um excelente líder, o Rui Solheiro. Tivemos sempre o cuidado, ao contrário daquilo que parece ter acontecido noutras comunidades, de deixar os partidos à porta e pormos os interesses da região acima dos interesses partidários. Está a ser dada continuidade a esse excelente trabalho. O actual presidente, José Maria Costa, é também uma pessoa com um dinamismo muito grande.
Quando cheguei à câmara, em 2005, promovi uma reunião com os presidentes de Monção, Arcos de Valdevez, Vila Verde e Braga por causa da ligação rodoviária Monção-Braga. A variante de Vila Verde é uma prioridade, é imprescindível, até para Braga. Pelo centro de Vila Verde passam 20 mil carros por dia, de Ponte da Barca a Vila Verde vêm seis mil. O Alto Minho interior tem uma ligação muito forte a Braga. Estamos a 20 minutos de Viana do Castelo e continuamos a quase uma hora de Braga. No âmbito da CIM do Alto Minho, vamos pedir ao Governo para serem reconsideradas algumas situações, ainda no âmbito do quadro comunitário que ainda não encerrou.

P - Mas o novo quadro comunitário não aposta muito em rodovias.
R - Vejo com preocupação essa decisão da União Europeia. Temos de bater numa tecla muito forte: temos auto-estradas a mais, temos as artérias, mas faltam-nos os vasos comunicantes. Temos milhares de quilómetros de estradas nacionais que estão cheias de buracos, que precisam de ser arranjadas e requalificadas.

P - Ponte da Barca tem conseguido resistir a alguma desertificação humana?
R - Não. Felizmente que as coisas parecem estar a inverter-se, mas as empresas que mais emprego dão na região estão ligadas ao sector automóvel. A indústria automóvel está em baixa, para não falar da construção civil. Vamos ter esperança que as coisas melhorem, mas, nos últimos tempos, houve muita gente, sobretudo quadros, que emigrou.

R - Recentemente, a câmara da Ponte da Barca lançou uma incubadora de empresas de base local. A 31 de Março terminou a primeira fase de candidaturas. Já tem dados?
R - Passaram-me já alguns projectos pela mão, sobretudo de empreendedores ligados à agricultura. Há uma cooperativa de jovens agricultores que se vai instalar com produções de frutos vermelhos e castanha. Vamos aproveitar as instalações de antigas escolas primárias para dinamizar a economia.

P - Em termos culturais, Ponte da Barca está a comemorar os 500 anos do Foral do Lindoso...
R - Nós temos feito uma aposta muita forte na Cultura. No átrio da câmara há exposições permanentes, temos uma aposta muito grande no Folk Celta, reeditamos a obra de Diogo Bernardes, temos feito o aproveitamento do facto de Fernão de Magalhães, a primeira figura da globalização, ter nascido em Ponte da Barca.

P - Uma questão polémica...
R - Já deixou de ser. Eu fui para Ponte da Barca e nunca tinha ouvido falar das origens de Fernão de Magalhães, o que diz bem da pouca importância que os meus antecessores deram à Cultura. Eu entendo que a Cultura é investimento, não é despesa. Havia a hipótese de Fernão de Magalhães ser do Porto ou da Ponte da Barca. Toda a sua família é da Ponte da Barca. Amândio Barros chegou à conclusão que Fernão de Magalhães só podia ter nascido no Porto por acidente. Sendo ele nobre, não podia estar no Porto. Luís Filipe Menezes andou também a querer que ele tivesse nascido em Vila Nova de Gaia. Fernão de Magalhães é um património que nós temos de valorizar, tal como o Diogo Bernardes, a arte rupestre da Chã da Rapada e o castelo do Lindoso, que está há três anos sob gestão da câmara municipal.

P - Recentemente foi aprovada uma candidatura com financiamento comunitário para o centro interpretativo do património da Ponte da Barca. O que vai ser feito?
R - A câmara comprou aquela que dizem ter sido a primeira casa sobradada da Ponte da Barca, a de Maria Lopes da Costa, a fundadora, onde terá dormido o rei D. Manuel numa das suas viagens a Santiago de Compostela. Recuperámos a casa, numa parte temos uma loja interactiva, noutra parte íamos fazer o museu de Fernão de Magalhães. Evoluímos e vamos partir para um centro interpretativo. Para este aproveitamento turístico temos a rota do românico. Temos em Ponte da Barca uma das principais igrejas românicas do país, a de Bravães, temos o mosteiro de S. Martinho de Castro, temos a igreja de Vila Nova de Muía e temos a ponte românica do rio Vade. Temos também a arte rupestre e parece que há, segundo o arqueólogo Luís Fontes, a única cova de urso do país.

P - Fez carreira nas Finanças. Qual é a situação financeira da câmara da Ponte da Barca?
R - É boa, dentro das actuais circunstâncias. Temos uma capacidade de endividamento na ordem dos quatro milhões de euros, o que é excelente para um município como o nosso.

P - É muito rigoroso na gestão da câmara?
R - Sou muito rigoroso. Costumo dizer que ia buscar o dinheiro à carteira das pessoas quando era chefe de Finanças. Faço contas de merceeiro. Os funcionários da contabilidade ficam muito admirados porque eu tenho tudo na cabeça.

P - Em termos de impostos municipais, é aliciante investir em Ponte da Barca?
R - Estamos com taxas de 0,3 a 0,36 de IMI, os terrenos para novas empresas são de graça, a derrama é reduzida até um volume de negócios de 150 mil euros.

Deixa o teu comentário

Usamos cookies para melhorar a experiência de navegação no nosso website. Ao continuar está a aceitar a política de cookies.

Registe-se ou faça login Seta perfil

Com a sessão iniciada poderá fazer download do jornal e poderá escolher a frequência com que recebe a nossa newsletter.




A 1ª página é sua personalize-a Seta menu

Escolha as categorias que farão parte da sua página inicial.

Continuará a ver as manchetes com maior destaque.

Bem-vindo ao Correio do Minho
Permita anúncios no nosso website

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios.
Utilizamos a publicidade para ajudar a financiar o nosso website.

Permitir anúncios na Antena Minho