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Mandatos de Carlos Videira marcados pela emergência social
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Mandatos de Carlos Videira marcados pela emergência social

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Mandatos de Carlos Videira marcados pela emergência social

Ensino

2015-11-21 às 06h00

Rui Alberto Sequeira Rui Alberto Sequeira

Carlos Videira prepara-se para abandonar a presidência da Associação Académica da Universidade do Minho depois de três mandatos. Numa entrevista à Antena Minho e ao Correio do Minho, sublinha a intervenção social para atenuar os efeitos da crise na população estudantil universitária. Ter suspendido o 'Enterro da Gata' por causa da morte de três estudantes da academia foi a decisão certa, diz Carlos Videira considerando que se tratou do dia mais triste que viveu na UMinho. O desporto universitário através da organização de eventos e da competição foi outra marca da liderança. Por resolver, em definitivo, fica a nova sede da Associação Académica.

Citação

Carlos Videira prepara-se para abandonar a presidência da Associação Académica da Universidade do Minho depois de três mandatos. Numa entrevista à Antena Minho e ao Correio do Minho, sublinha a intervenção social para atenuar os efeitos da crise na população estudantil universitária. Ter suspendido o 'Enterro da Gata' por causa da morte de três estudantes da academia foi a decisão certa, diz Carlos Videira considerando que se tratou do dia mais triste que viveu na UMinho. O desporto universitário através da organização de eventos e da competição foi outra marca da liderança. Por resolver, em definitivo, fica a nova sede da Associação Académica.

P - Carlos Videira está em final de mandato e no fim de uma presidência renovável de três mandatos que se iniciou em 2013. Que experiência retira da sua passagem pela liderança da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM).
R - Levo uma experiência muito rica. O meu ingresso na Universidade do Minho (UMinho) ficaria incompleto se não tivesse esta experiência na Associação Académica e principalmente como presidente nos últimos três anos. Foi possível fazer um pouco de tudo porque de facto a área de intervenção da AAUM é muito transversal desde a intervenção política, pedagógica, à social, desportiva, cultural, nas tradições académicas e no empreendedorismo.

P - Qual é a marca pessoal que pensa deixar depois de três mandatos como presidente Associação Académica?
R - Foram três presidências marcadas por um período em que o nosso país, e também a nossa região, viveu tempos complicados e em que nós sentimos que os estudantes passavam por várias dificuldades. Nesse sentido pensámos ter a intervenção social como prioridade e penso que o conseguimos. Ao longo destes três anos não houve nenhum aumento de propinas na UMinho, também fruto da nossa acção. Gostaríamos que baixassem mas não foi possível no actual contexto de subfinanciamento da instituição. Congelar o valor da propina foi já um esforço do Reitor para corresponder a um papel de responsabilidade social que as instituições devem ter. Recuperando ainda a questão social, em 2013, foi criado o Fundo Social de Emergência que apoiou ao longo dos últimos três anos mais de 270 estudantes.

P - O Fundo compensou o facto do valor da propina não ter descido?
R - Sim e contribuiu também para suprir algumas necessidades que não eram resolvidas dentro do quadro da Acção Social. Nos últimos dois anos houve uma série de revisões ao regulamento de atribuição de bolsas, a última das quais em Junho que permitirá aumentar em vários milhares o número de estudantes abrangidos pela acção social directa. No caso da UMinho também teremos mais alunos bolseiros através do sistema de acção social do Estado.

P - A determinado momento falou-se no abandono de estudantes que frequentavam o ensino superior, por dificuldades económicas. No caso da UMinho qual foi o panorama vivido?
R - Conseguimos evitar muitas dessas situações através do Fundo Social de Emergência. Mas não só. Uma das primeiras medidas que tomei quando assumi em 2013 a presidência da AAUM foi a diminuição das senhas de cantina em 20 cêntimos e das senhas de transporte entre Braga e Guimarães em 30 cêntimos. Em Braga através dos Transportes Urbanos procurámos aumentar a oferta nocturna e ao fim de semana, entre as residências e a estação de comboios. Neste momento falta apenas concluir um processo que está nas mãos da Câmara Municipal de Braga, e que no nosso entender não pode continuar a ser adiado: a entrada e a circulação de autocarros no Campus de Gualtar. Já foi prometido há algum tempo e incompreensivelmente continua sem ser resolvido. Seria muito importante no sentido de salvaguardar a segurança dos estudantes, principalmente nesta altura do ano em que os dias são mais peque-nos.

P - Não há nada de estrutural que impeça a circulação?
R - Não. Existe apenas uma vontade política que tem de ser concretizada

P - Em Junho, aquando da redefinição do regulamento de atribuição das bolsas de estudo, apontou-se para um número de mais 3000 a 4000 alunos. No entanto no passado verificaram-se atrasos e dificuldades no acesso às candidaturas?
R - O ano lectivo de 2014/2015 foi absolutamente desastroso e fomos uma das associações académicas mais activas na denúncia e na exigência de explicações por parte da Direcção Geral do Ensino Superior (DGES) e do ministério da educação. Verificaram-se bloqueios da plataforma “on-line” que não permitia aos Serviços de Acção Social analisar os processos e aos estudantes anexar documentos. Registaram-se atrasos sistemáticos no pagamento de bolsas que provocaram instabilidade nos alunos. O novo regulamento de atribuição de bolsas vem resolver um problema antigo que é a exigência de pagamento da bolsa de estudo em data fixa.

P - Está ser cumprido esse compromisso?
R- Sim. Nestes dois meses de Setembro e Outubro foi cumprido Os estudantes até ao dia 25 de cada mês têm recebido a sua bolsa de estudo. Nesta fase nem todos os estudantes estão a receber bolsa porque os processos ainda se encontram em análise.

P - Os Serviços de Acção Social têm perdido nos últimos tempos a sua capacidade de intervenção e porventura fiscalização?
R - Julgo que perderam e no caso da UMinho foi bastante prejudicial. Não é por acaso que a UMinho foi a última a aderir a esta plataforma da DGES. Até essa adesão tínhamos processos a serem resolvidos com grande celeridade e bolsas de estudo pagas sempre até ao dia 8 de cada mês, transferidas pelos serviços de acção social. No entanto a nível nacional havia discrepâncias entre os serviços das instituições de ensino e esta centralização de processos por parte da DGES veio nivelar a questão das bolsas.

P - Quantos alunos bolseiros tem a Universidade do Minho.
R - A UMinho teve 5300 alunos bolseiros o ano passado. Ficou a escassas dezenas da Universidade do Porto. A UMinho tem 19 mil estudantes e a do Porto tem 30 mil. Em termos relativos somos a universidade com mais bolseiros. Foi-o durante muito tempo em termos absolutos, este ano poderá vir a ser também. Dado que já temos disponíveis, apontam para a UMinho ser a instituição de ensino superior em Portugal com mais alunos bolseiros.

P - É um sinal, um reflexo do contexto socioeconómico da região onde a universidade se encontra implantada?
R - A crise acabou com a mobilidade dos estudantes no ensino superior. Praticamente não temos estudantes que vão de norte para o sul ou vice-versa. A captação de estudantes para as universidades é sobretudo nos distritos envolventes. É uma pena que as razões económicas limitem a escolha dos jovens que ingressam no ensino superior.

P - A componente social marcou em definitivo parte dos seus mandatos como presidente da AAUM e que levou a adopção de algumas medidas que explicitou. Há hoje uma maior normalização dessa situação social?
R - Tomámos posse num cenário de emergência social e procurámos ter acções concretas que já referi. Houve também um trabalho de consciencialização com toda a academia ao nível de actividades de âmbito solidário e social. Penso que hoje, ao fim de três anos a situação não estará completamente resolvida, mas está muito atenuada. Temos melhores instrumentos para resolver as situações sociais e mais capacidade para o fazer do que no passado recente.

P - O Fundo de Emergência Social responde a todas as necessidades ou existem constrangimentos?
R - O valor que tínhamos para o Fundo nunca foi totalmente atribuído. A esse valor juntaram-se contribuições da sociedade civil e de iniciativas de estudantes que têm levado a que o Fundo aumente consideravelmente ano após ano. O Fundo de Emergência Social apoiou 270 estudantes em três anos. O último ano lectivo foi aquele em que mais alunos foram apoiados, num total de 131.

P - Quais são as condições para o acesso ao Fundo de Emergência Social?
R - São condições semelhantes ao do regulamento de atribuição de bolsas com algumas diferenças nomeadamente no que diz respeito à contabilização dos rendimentos. Há uma dedução das despesas até 30 % em saúde e habitação o que permite abranger mais estudantes. Há também algumas diferenças ao nível do aproveitamento. Um estudante que se inscreva a mais créditos do que aqueles que é obrigado, não é prejudicado por isso. São duas das principais diferenças do Fundo em relação à atribuição de bolsas.

P - Disse que os três mandatos foram pautados por um período de dificuldades económicas do país, da região mas vai chegar ao fim deste mandato com uma previsão de cem mil euros de lucro da Associação Académica. Não existe aqui uma contradição?
R - A AAUM tem um orçamento de 4,8 milhões de euros, essa verba de cem mil euros será um pouco irrisória face ao orçamento geral. Aquilo que sucede é que as sucessivas direcções da Associação têm todos os anos procurado contribuir para a nova sede que terá um investimento considerável. O contributo que as sucessivas direcções têm colocado nessa conta é de 90 mil euros e é isso que nós pretendemos fazer também este ano. Nesta altura temos nessa conta 1,2 milhões de euros que servirá para a construção da nova sede da AAUM - ainda que se preveja no actual cenário que possa vir a ser comparticipada por fundos comunitários - mas também para o recheio e para a sustentabilidade do edifício.

P - O orçamento anual de 4,8 milhões de euros da AAUM é bastante significativo, as pessoas podem perguntar em que é gasta esta verba considerável.
R - A Associação tem cerca de 300 actividades por ano. Para além dessas actividades presta ainda uma série de serviços. A AAUM tem nesses quase 5 milhões de euros do seu orçamento, uma verba muito considerável de cerca de um milhão destinado a actividades recreativas como por exemplo o ‘Enterro da Gata’ e a ‘Recepção ao Caloiro’ . Temos o sistema de transportes entre Braga e Guimarães que custa 300 mil euros/ano; a RUM tem um orçamento a rondar os 500 mil euros, temos um conjunto de departamentos, temos os bares académicos em Braga e Guimarães, o ‘Insólito bar’, as reprografias, tudo isto contribui para que este valor seja bastante considerável.

P - Um milhão e duzentos mil euros é o valor já amealhado para a nova sede da Associação Académica que tem sido um processo complicado, moroso e que parece continuar ‘encalhado’.
R - Uma das mágoas que levo dos meus três mandatos é não ter conseguido desbloquear a construção da sede.

P - O que é que tem obstaculizado a construção de uma sede para a AAUM?
R - Perderam-se no passado, em resultado de certas vicissitudes, oportunidades que agora deixaram de existir. Quando iniciei funções tínhamos um projecto para a Quinta dos Peões que depois foi alterado sem o nosso conhecimento. Em Julho de 2013 há um projecto que é apresentado em reunião da Câmara Municipal de Braga que empurra a sede para outro local, sem a mesma centralidade, em que estava consagrada uma área de 2500 m2, igual á que temos na rua D. Pedro V. Esse projecto não nos interessou. Procurámos redefini-lo e encontrámos esta solução da ‘Confiança’. Traz mais proximidade ao Campus de Gualtar, tem também uma área disponível muito maior para aí instalarmos não só os nossos serviços administrativos mas também espaços para os estudantes. O avanço da nova sede está dependente dos fundos comunitários. A sede da AAUM foi para as instalações na rua D. Pedro V em 1995. Nessa altura tínhamos sete mil alunos. Hoje continuamos no mesmo local e temos 19 mil estudantes.

P - A separação entre o meio universitário e o centro de Braga tem vindo a esbater-se?
R - Tem sido combatida mas não foi completamente anulada. A localização da UMinho em Braga criou uma nova centralidade com muitas ofertas a diversos níveis, com preços mais baixos do que aqueles existem em outros locais. Tudo isto faz que o estudante que vem de fora de Braga não tenha muita necessidade de ir ao centro. É importante que haja factores diferenciadores no centro que atraiam os estudantes e que a oferta cultural de Braga seja adaptada aos estudantes universitários.

P - Um dos seus mandatos como presidente da AAUM fica marcado pela morte de três alunos no âmbito de actividades relacionadas com as praxes. Na altura tomou a decisão de cancelar os festejos do ‘Enterro da Gata’ determinando o luto académico. Agora quatro estudantes envolvidos nos acontecimentos que provocaram a morte dos colegas são acusados de homicídio por negligência pelo Ministério Publico (MP). Como é que o Carlos Videira vê hoje esses acontecimentos e acusação?
R - O dia 23 de Abril de 2014 ficará certamente marcado como o mais triste que eu vivi na Associação. No que diz respeito à decisão de suspender as festas penso que hoje não restam quaisquer dúvidas de que foi a mais acertada, apesar de muitas pessoas não a terem compreendido. Era importante naquele momento que houvesse uma reflexão sobre o que sucedeu e dar um sinal de respeito pela morte dos alunos. A decisão do MP é uma surpresa. Conhecendo um pouco melhor o processo verifica-se que está cheio de imprecisões. Por exemplo o despacho de acusação diz que o acidente ocorreu durante o ‘Enterro da Gata’, ora tal não é verdade. Acabámos de dizer que foi na sequência da morte dos estudantes que as festas académicas foram suspensas. Mas há outras imprecisões ao longo do despacho que nos merecem muitas reservas. A AAUM estará disponível para apoiar os estudantes no que for necessário.

P - A AAUM não consegue controlar os excessos cometidos nas praxes, que foram proibidas no interior dos campos universitários.
R - Quando mandamos as praxes para a via publica ou para locais onde não existe escrutínio, não há controlo e o risco aumenta. A praxe é uma actividade que diz respeito à liberdade dos estudantes, ou seja, á sua liberdade de participarem ou não.

P - Mas reconhece que há excessos em certas práticas?
R - Há excessos nas praxes como há em muitas outras vivências académicas. Importa é que esses excessos sejam punidos exemplarmente. Se forem dentro do campus universitário, o regime jurídico das instituições de ensino superior dá poder disciplinar aos reitores. Se for fora, certamente que a praxe não é nenhuma actividade à margem da lei e portanto sempre que houver algo que seja um excesso ou um abuso deve ser denunciado e tratado com confidencialidade e informalidade. Deve ser combatido para que não se tome a parte pelo todo. Eu sinto que a praxe tem um sentido muito positivo no sentido da integração, da camaradagem, do sentido comunitário e da solidariedade.

P - Acredita que a praxe tem esse aspecto integrador quando assistimos na rua a situações de humilhação dos caloiros?
R - Haverá uma necessidade de evoluir em alguns comportamentos e os estudantes devem estar abertos a essa reflexão. Mas há sempre uma certa irreverência em contexto de praxe. Nem diabolizar demasiado, nem tolerar demasiado.

P - Quem controla as praxes?
R - São os estudantes que estão envolvidos que fazem o controlo do que sucede. A principal regra numa praxe deve ser o bom senso.

P - A AAUM tem conseguido uma expressão singular a nível do desporto universitário quer em Portugal quer a nível internacional, através da realização de eventos mas também pelos resultados desportivos obtidos.
R - O desporto foi uma área que mereceu a nossa atenção ao longo dos últimos três anos. Na competição conseguimos todos os anos mais de uma centena de medalhas a nível nacional. Foram resultados muito bons que projectaram a Universidade e as cidades de Braga e Guimarães Em 2013 fomos a melhor universidade europeia em desporto universitário e este ano vamos seguramente estar entre as três melhores. Isso aconteceu sem um curso de desporto na UMinho.

P - Faria sentido um curso de desporto na universidade?
R - Só se fosse diferenciador em relação à oferta que já existe no país. Em relação aos eventos organizados pela associação temos conseguido trazer para as duas cidades, anualmente, uma grande competição desportiva universitária. Temos contado com as autarquias que têm integrado os respectivos comités organizadores mas devo acrescentar que gostava de ver esses eventos desportivos universitários mais valorizados por Braga e por Guimarães. Recebemos este ano as fases finais dos campeonatos nacionais universitários em que marcaram presença 2300 pessoas e para nós é um grande orgulho acolher estes eventos mas para as cidades de Braga e Guimarães está aqui um potencial enorme que devia ser melhor aproveitado.

P - No âmbito da organização dos eventos desportivos a realização do campeonato mundial universitário de ciclismo em 2018 é uma das próximas apostas da AAUM?
R - É uma candidatura apresentada no passado mês de outubro em Bruxelas. A decisão final deverá surgir em Dezembro. Para nós foi importante apresentar esta candidatura porque cumpre o desígnio de mudar o paradigma das organizações que temos feito. Até agora tínhamos realizado modalidades de pavilhão e depois porque é uma iniciativa que traz uma grande ligação á comunidade. Na candidatura propusemos quatro provas diferentes que queremos fazer entre Braga e Guimarães. Teremos uma prova de estrada, de contra relógio, de downhill e de XCO.

P - A AAUM vai ter uma equipa de ciclismo?
R - Vamos trabalhar para isso certamente (risos).

P - No plano cultural tem existido também uma dinâmica assinalável mas que pode ser melhorada.
R - É uma actividade que tem tido uma grande intervenção principalmente dos grupos culturais da UMinho que têm tido um papel muito activo na divulgação da entidade cultural da instituição. A AAUM deve no futuro reforçar a sua intervenção principalmente no Festival de Outono que é uma iniciativa do Conselho Cultural, no sentido de também adaptar o programa àquilo que é o gosto dos estudantes.

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